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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Joy Mills: Uma Jornada Evolutiva (4ª parte)

Esta é a última parte da entrevista conduzida por Cynthia Overweg a Joy Mills, que foi publicada na revista da Sociedade Teosófica dos EUA, a Quest.

Para melhor enquadramento recomenda-se a leitura da 1ª parte e naturalmente para seguimento da entrevista é importante a leitura da e s partes.

Continuando...

Aos vinte e sete anos, Joy já tinha contribuído significativamente para o crescimento da Sociedade nos anos do pós-guerra. Adorava o seu trabalho e estar em Olcott, mas sentiu que era altura de ganhar um pouco mais de dinheiro e começou a fazer algumas poupanças. Em 1948, aceitou um lugar de professora em Seattle. “Era difícil deixar Olcott, mas não estava deixando a Teosofia; estava a abraçar a profissão para a qual me tinha preparado”. Ela ensinou história dos EUA na Escola Secundária de West Seattle. “Tentava fazer com que a História ganhasse vida para os meus alunos. Queria que eles tivessem pensamento crítico e não se limitassem a aceitar o modo como os media mostravam o mundo.”


Joy Mills em 1943 (foto: Theosophy Wiki)

Durante este tempo Joy permaneceu muito ativa na Sociedade, tornando-se presidente da Federação do Noroeste. Sete anos mais tarde, Perkins precisou de um editor para o The American Theosophist (predecessor da atual Quest), e portanto, por convite dele, voltou a Olcott. “Fiquei encantada pela beleza do Noroeste, mas regressar a Wheaton pareceu-me a coisa certa a fazer.” Assumiu o departamento de educação de Olcott em 1955 e dali em diante dedicou a sua vida exclusivamente à Sociedade.

Joy Mills a discursar na Convenção de verão de 1954
(foto: Theosophy wiki)


Em 1960, Henry Smith foi eleito presidente e pediu a Joy para ser vice-presidente. Ela concordou, mas cinco anos depois ele demitiu-se e Joy tornou-se presidente em exercício. Em 1966, foi eleita presidente de forma esmagadora tendo desempenhado funções até 1974. O seu mandato como da presidente da Secção Norte-Americana foi um dos mais produtivos na história da Sociedade. Com a ajuda da Fundação Kern, Joy lançou a Quest Books, um acontecimento seminal para a Sociedade. À medida que a Quest cresceu, ela conduziu uma campanha de financiamento para a construção de um edifício para as publicações de modo acomodar a sua expansão. O edifício tem atualmente o seu nome.

Ann Kerr empossa Joy Mills como
presidente da secção dos EUA (1966)


Joy foi presidente durante um período de grande agitação, quando a Guerra do Vietname e o movimento de direitos civis provocava confrontos violentos nas ruas das cidades americanas e despertava milhões de pessoas para a necessidade de justiça e igualdade social. “Escrevi alguns editoriais enérgicos sugerindo que temos a responsabilidade de nos manifestarmos – de tomar uma posição pela fraternidade. Na altura era controverso porque enquanto alguns membros agiam com fraternidade na teoria, na prática aceitavam a segregação.

A certa altura Joy foi criticada por se juntar a uma secção local do NAACP (National Association for the Advancement of Colored People) [Associação Nacional para o progresso das pessoas de cor]. “Embora não possamos envolver a Sociedade em política, podemos nos manifestar individualmente em questões de consciência e foi isso que fiz. Os fundadores apoiaram a dignidade e igualdade humanas e Besant destacou-se bastante nesse particular. A fraternidade é um dos objetos da Sociedade desde o seu início e afirma muito claramente que todos são irmãos.”


Video: Um tour pela ST nos EUA conduzido pelo atual 
presidente da Sociedade Teosófica, Tim Boyd

A palavra “fraternidade” desperta controvérsia nalguns membros porque pode ser interpretada como excluindo mulheres e raparigas. “ [NT: No inglês “fraternidade” é “brotherhood”, “brother” siginifica irmão, e portanto é masculino. No português esta questão não levantaria controvérsia, dado que a palavra fraternidade é “neutra” quanto ao género.] Sabemos que se refere a toda a gente, mas seria preferível ter uma linguagem neutra quanto ao género.”, refere Joy. “Vivemos num mundo com uma perceção turva de como a linguagem rotula as pessoas ou as exclui. De certo modo, precisamos de uma nova linguagem que ultrapasse isso, e a linguagem evolui.”

Perto do fim do terceiro mandato de Joy como presidente da Secção Norte-Americana, o admirado presidente internacional da Sociedade, N. Sri Ram, faleceu. Quando John Coats foi eleito para ocupar o lugar de Sri Ram, nomeou Joy para vice-presidente internacional. Ela deixou Wheaton em 1974 e foi viver em Adyar, desempenhando funções durante seis anos. “Quando estava no avião partindo de Chicago para Adyar, tinha aquele velho sentimento de estar novamente sem uma casa. Mas eu adoro a Índia e a adaptação à vida lá foi fácil.” Enquanto esteve em Adyar, encontrou-se com o Dalai Lama uma segunda vez quando Sua Santidade foi o orador convidado na conferência Internacional da Sociedade em 1975. “ John e eu tivemos o privilégio de tomar chá com Sua Santidade”, recorda Joy.


N. Sri Ram (1889-1973)

Em 1980, Joy foi convidada por Anne Green, então a diretora residente do Instituto de Teosofia de Krotona, para se tornar diretora da Escola de Krotona. “Isso realmente atraiu-me porque significou voltar àquilo de que mais gostava – a educação e o ensino.” Joy revigorou os programas educacionais em Krotona, estabelecendo um legado de excelência. Doze anos mais tarde, em 1992, o comité de investigação da Secção Australiana pediu-lhe para se candidatar à presidente daquela Secção. Joy estava pronta para um novo desafio e foi eleita por uma ampla margem.

Regressou a Krotona em 1996, onde agora vive, sendo professora, oradora e escritora residente. Ao longo dos últimos setenta e dois anos, Joy viajou por sessenta países, ensinando através de seminários e palestras e alimentando um sem número de estudantes de Teosofia. Ela é um modelo para muitos outros que procuram o seu aconselhamento. Escreveu vários livros notáveis incluindo o recente Reflections on an Ageless Wisdom: A Commentary on the Mahatma Letters to A.P. Sinnett. Os seus outros livros são The One True Adventure: Theosophy and the Quest for Meaning; One Hundred Years of Theosophy; e Entering on the Sacred Way.




Joy nunca casou, embora tenha considerado essa possibilidade há 60 anos. “Era um bom homem, um teosofista, mas precisava da minha liberdade. O trabalho absorvia-me totalmente e eu teria sido uma péssima dona de casa.”

Enquanto olhava através da janela da sua sala de jantar para a sua árvore favorita, Joy recorda-se da experiência que teve muitos anos antes nos bosques dos Ozark. “Podemos olhar para uma árvore e ver lenha, ou podemos ver uma presença viva com um propósito e inteligência próprias”.


Joy Mills (3ª a contar da esquerda) numa foto
tirada no Rio de Janeiro em 1973

Joy volta então ao tema da Unidade e da jornada evolutiva para uma melhor compreensão do que significa ser humano. “A mente gosta de separar o “eu” do “outro”. Temos de estar atentos a isso porque conduz-nos de volta à questão fundamental: “Quem sou eu?” E essa questão evolui à medida que evoluímos. Como HPB disse de tantas maneiras diferentes, uma vez que tenhamos sentido compaixão por outro ser vivo, começámos a despertar para o propósito e sentido da existência. Essa é a essência da Teosofia.”





Uma nota final apenas para referir que o site Theosophy Forward também homenageou Joy Mills, através da publicação de um e-book chamado "Pearls of Joy", onde está incluída uma outra entrevista à teosofista norte-americana. Esta newsletter da Ordem Teosófica de Serviço também resume a vida desta alma nobre que se dedicou à causa teosófica.

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